08 maio 2007

Lendas do Sul - Erva-mate

ERVA - MATE
Poucas cenas são mais emblemáticas no imaginário das tradições regionais que o do gaúcho segurando uma cuia a sorver seu chimarrão.Quem a contempla logo pensa que o chimarrão e o homem do Pampa nasceram juntos, assim como se tivessem sido feitos um para o outro.
Sequer chega a suspeitar de que nem sempre existiu a erva - mate mesmo quando já se habitavam essas terras do Sul.


A árvore de onde se colhe a folha para produzir a bebida amarga adorada por tantos gaúchos só surgiu no mundo depois de um pedido muito especial feito a Tupã, o grande Deus indígena.Em algum lugar no meio das coxilhas vivia aquerenciada uma tribo guarani, cujo cacique tinha muita fama de valentia, bravura e sabedoria.Era um exemplo para seus comandados. Todos os indios queriam ser como ele, lutar como ele, caçar como ele, ter o conhecimento de tudo que ele sabia. Outro motivo de orgulho para o cacique era a sua linda e formosa filha, Caá-Yari, muito admirada pelos jovens guerrreiros.Mesmo com tantas razões para ser um homem altivo e feliz, o chefe indio andava acabrunhado. Triste.Uma tristeza que vinda lá do fundo da alma. O cacique estava se enveredando pelos caminhos da velhice e tinha medo de ficar sozinho.Álem disso, estava preocupado com sua sucessão. Não tinha filho homem e precisou escolher para sucedê-lo o mais valoroso entre os guerreiros da tribo.Justo o bravo pelo qual sua filha Caá-Yari, estava apaixonada.Era um grande problema a afligi-lo.Pela lei dos guaranis, a mulher do chefe da tribo tinha de acompanhá-lo em quaisquer de suas viagens, fossemm caçadas, fossem batalhas, fossem missões de paz ou a busca de novas terras.Assim , se Caá-Yari casasse com o guerreiro escolhido para se tornar o novo cacique, muitas vezes teria que se ausentar da tribo.Com a filha longe, o velho chefe não sabia se ia aguentar continuar vivendo.Caá-yari conhecia as apreensões do pai. E para não magoa-lo, a bela india amava seu adorado em segredo.A filha zelosa sabia que, só com o pensamento de vê-la longe, o cacique caia numa melancolia danada.O despreendimento de Caá-yari era percebido pelo chefe indigina.Sua dor e angustia eram tantas que decidiu procurar Tupã, o deus dos deuses, aquele que costuma ordenar todas as coisas no mundo.O cacique tinha consciencia de que não poderia exigir a presença da filha ao seu lado para sempre e pediu a Tupã, que lhe escolhesse um companheiro para as horas de solidão.Como forma de atender o pedido, o grande cacique do Céu mostrou ao cacique da terra uma árvore grande, de folhas verdes.Dessa árvore o chefe indio retiraria , secaria e torraria as folhas, fazendo com elas uma bebida amarga e quente, mas deliciosa.Seria sua companhia para quando ninguem estivesse junto a ele. Para preencher o vazio da saudades.E assim foi criada a erva - mate.Tupã também ensinou o cacique a partir o porongo e a fazer um canudo de taquara. Junto com a erva, surgiam a cuia e a bomba do chimarrão.Arraigando-se ao hábito da nova companhia, o cacique pôde finalmente confirmar seu sucessor como legitimo lider da tribo e, ao mesmo tempo abençoar a união dele com sua filha.Agora , quando os dois jovens estivessem longe, o velho indio teria sempre ao seu lado o antidoto para espantar a tristeza.Por ter sido a razão do surgimento da erva - mate, Caá-yari passou a ser a padroeira e protetora dessas árvores.Desde então, a lenda foi sendo contada de geração em geração.Uma historia que passou a rechear a prosa nas rodas de chimarrão.
Caá-yari - O nome da filha do cacique neste texto da lenda, é uma composição de dois termos no idioma guarani: "caá", que significa folha ou especificamente mate, e "yarií", que significa avó.
Erva - mate - A arvore de cujas folhas se prepara o ingrediente básico para o chimarrão. É uma planta das aquifoliáceas, tambem chamada apenas de mate.
Pampa - Tem origem no idioma dos indios quichuas, significando campo aberto.

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