08 fevereiro 2008

Poesia do Dia

MINHA LÁGRIMA
Autor: Moró

Não culpem a minha lágrima que desce
Pela epiderme rota do meu rosto
De ser a mensageira do desgosto
E de toda a mágoa, enfim, que me aborrece!

Ela é, somente, um componente oposto
Ao mal que a vida sempre me oferece,
Porque quando o meu espírito adoece
Ela umedece meu corpo decomposto!

Esse pingo d'água que me molha a face
Só reflete as dimensões do meu impasse
E a imensidão letal do meu sofrer!

Ela é apenas a essência de minhas penas
Que correm deprimidas... Mas serenas
Pelos rios subterrâneos do meu ser!

II

Não culpem esse meu grito em desatino
Que, às vezes, não domino na garganta,
De ser a maldição negra que espanta
Os dias mais azuis do meu destino!

Ele é somente o eu que se levanta
Do meu espírito pobre e teatino
E que o vento maleva faz de hino
Para anunciar outra semana santa!

O brado agudo que esse peito solta
Só ameniza as dores da revolta,
Tornando brando meu gemido aflito!

E quanto mais o arbítrio me condena,
Mais eu reduzo o peso dessa pena
E me liberto de vez... Pelo meu grito!

III

Não culpem meu cavalo, eterno guia
Em todas as fatídicas jornadas,
Pelas passadas lerdas e estropiadas
Que nunca alcançam minhas fantasias!

Ele também é um oponente à estrada
A qual insisto, em minhas teimosias,
De percorrê-la ao rumo de utopias
Que, bem sabemos, não nos leva a nada!

Esse pingo de um trotear tristonho
Só transporta a carga dos meus sonhos
E todos meus pecados no selim!

E ainda aceita, por buenacho e tauro,
Que eu use a sua metade de centauro
Para que eu tenha patas sob mim!

IV

Não culpem ninguém por meus fracassos
Ou por essa minha alma feita em trapo,
Pois essa imagem que tenho de farrapo
É porque ainda não juntei os meus pedaços!

Aceitei me fazerem menos guapo
E ser vestido, a rigor, como palhaço!
Eu mesmo me feri dos meus puaços
E engoli, sem protestar, todos os sapos!

Portanto... Se eu chorar, não chorem junto,
Pois as lágrimas nos olhos de um defunto
Não mais transmitem dor... Nem padecer!

Apenas são gotas que, embora sejam penas,
Correm deprimidas... Mas serenas
Pelos rios subterrâneos do meu ser!