15 dezembro 2006

Versão gaudéria do causo anterior

Diz que ali por perto de Bagé, tem uma sanga que dá cada trairão que é uma loucura!
Tarde de agosto, minuano assoviando, friozinho de ranguear. Quem conhece aquela região sabe: lá não é quente ou frio. Naquelas banda é MUITO quente ou MUITO frio. Pois bem, tavam lá dois piá jogando umas linha e, assim no más, foi se congelando o banhadinho. Depois, num trote só, transformou-se a sanga numa pedra branca que nem o fundo dos olhos no Nego Antão.
Os guri se apavoraram! A la pucha! Que coisa mais estranha!
Quem nem diz o Tchê Gustavo: Mas que tal!!
Que rico cagaço...
Assim que o coração voltou pro lugar os piá se sentindo mais faceiros, resolveram desafiar aquele pedrume de gelo.
O mais novo ficou na beira e o outro resolveu dar umas esbarrada.
Vinha que vinha e carcava o pé nas espora. Deslizava um eito e se planchava uma quantia de vezes. O piá da beira se mijando de rir dos tombos do parceiro de pesca.
De repente, um risco mais fundo da roseta, abriu um veio no chão gelado.
Mas bah! Aquilo foi igual quando tá quebrando lenha pro fogo de chão. Deu um estrondo se abrindo bem onde tava o guri, engolindo a metade dele.
E o que era pior.
O desgraçado ficou trancado pela guaiaca. Não subia nem descia. Só congelava do cóz da bombacha pra baixo....
O que tava se rindo, meio que se apavorou, mas bombeando pros lados viu uma carcaça de um boi que tinha sido comido por um jacaré, arrancou dela uma aspa de palmo e meio, e tratou de cavocar no gelo.
Quatro ou cinco trancaços depois, outro estalo, e o maneado saltou que nem lebre da macega, saindo em disparada pra costa da sanga.
Meio abostado e encagaçado ainda, viu uns tropeiro se chegando e contou-lhes o fato sucedido. A peonada, acostumada com lida dura, não acreditou.
_Como pode um piazito quebrar uma tora de gelo dessa grossura, sendo tão fracote...Se ainda tivesse um enchadão, um machado, uma Solinge...Se nós três tentá junto, batendo com o cabo do mango, duvido que rache a porquera...
Nisso, aparece o Sebastião, num mouro dos mais lindo. O Sebastião era peão da Fazenda Duas Cruzes fazia uma vida. Na redondeza, todos respeitavam o quera por ser trabalhador, por não ter medo de nada e até, se dizia, porque sabia fazer conta e assinar todo o nome.
O gaudério olhou praquele povaréu que já se juntava na costa da sanga e calmamente falou:
_Algum mais valente ou mais metido a esperto sabe por que o piá conseguiu?
Silêncio de céu estrelado no verão...
_Lhes digo: porque ele não é cagão!!!Porque não ficou esperando que os da volta falassem que ele não ia conseguir. Acreditou nele! E fez...
Esse piá vai dar dos bom!!!

Nenhum comentário: