28 fevereiro 2007

"A LENDA DA SALAMANCA DO JARAU"

No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no povo de San Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai.
Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia.
Ora num verão mui forte, com sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta.
Vai então, levantou-se assoleado e foi até a beira de uma lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo.

Coisa estranha:
a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual que não foi a surpresa do sacristão ao ver sair dàgua a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo.
Ele homem religioso, sabia que a Teiniaguá, os padres diziam isso!, tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno.
Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem.
Aquele pelo qual ela se apaixonasse seria feliz para sempre.
Assim , num gesto rápido, aprisionou a Teiniaguá na guampa e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor.
Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto,louco que chegasse a noite.

Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia,ele não se sofreu:
destampou a guampa para ver a Teiniaguá.
Ai, o milagre:
a Teiniaguá se trasformou na princesa moura,que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos.
Ora, vinho só o da Santa Missa.
Louco de amor, ele não pensou duas vezes:
roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite.

No outro dia , o sacristão não prestava pra nada...

Mas quando chegou a noite tudo se repetiu.
E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão.
A princesa moura se transformou em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado de vinho e de amor foi preso e acorrentado.
Como o crime era terrível, contra Deus e a Igreja!, foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado.

No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de San Tomé.
Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que o seu amado corria perigo. Aí, com todo poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, nuns valos enormes, rasgando tudo.
Por um desses valos ela finalmente chegou a igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão.

O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora,parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou e tudo desapareceu de vista.
E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai.

Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz.
Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida.
E lá foram morar, os dois.
Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta magica" , a Salamanca do Jarau.
Quem tivesse coragem de entrar lá, tinha que passar pelas 7 provas e quem conseguisse sair dali ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida.
Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacritão se tornaram os pais dos primeiros
gaúchos do Rio Grande do Sul.


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Ah, ali vive tambem a Mãe do Ouro, na forma de uma grande bola de fogo.
As vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa cabeça do Cerro e pula de uma elevação para outra.
Muita gente já viu.


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San Tomé , ou São Tomé, cidade da provincia de Corrientes, as margens do rio Uruguai, existe, bem como os valões nas ruas que a Teiniaguá teria aberto.

Mas no folclore correntino, onde a lenda também é popular a criatura se chama Teyu-yaguá, meio lagarto meio cão.
O povo de São Fancisco de Borja, é a cidade gaúcha de São Borja, as margens do rio Uruguai, quase em frente a de Santo Tomé...

O Cerro do Jarau fica no municipio de Quarai, cujo brasão ostenta o perfil do Cerro e a propria Teiniaguá.

O Jarau, impressionante em sua beleza, envolto em mistérios, é um cerro ou uma cadeia de cerros.

De longe parece azulado.

Em seu ponto mais alto fica a lendária Salamanca, cuja entrada é facilmente encontrada mas que não pode ser explorada em profundidade por causa de
um ou vários desabamentos.

Até mesmo porque nenhum tipo de iluminação funciona lá dentro, seja elétrica, candeeiro, vela, etc, etc..

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Quem primeiro se preocupou com o lendário do Jarau foi o espanhol Daniel Granada, ao publicar a sua "Reseña histórico-descritiva das antiguas y modernas
superticiones del Rio de la Plata" em 1896,conforme Augusto Meyer, em seu
"Guia do Folclore Gaúcho" p. 234

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